16/08/2009

Cabra Marcado Pra Escrever

Podemos Brincar de Casinha?


Trecho do e-mail de uma grande amiga:
"Mas olha, hoje eu estava voltando para casa do consultório das Graças
(bairro de Recife) e peguei um enorme engarrafamento. Estava muito claro
ainda, e eu vim observando o trânsito. Logo descobri algo para falar
para você. Na minha frente estava um jovem homem num carro igual ao meu.
Logo chamou minha atenção porque o jovem tinha cabelos meio grandes,
talvez "em crescimento" e ele estava aparentemente muito preocupado com
a arrumação dos mesmos, pois não parava de olhar no retrovisor e
ajeitá-los. O trânsito deu alguns passinhos e nós nos perdemos. Mais na
frente, lá estava ele outra vez. Meu carro chegando, o dele já parado e
a criatura com os olhos fixos no retrovisor e mãos apressadas a arrumar
os cabelos pela milésima vez. Nesse momento inúmeros pensamentos
invadiram minha mente e eu pensei: "estou com saudades dos homens de
antigamente", também pensei: "nunca queria um homem desses ao meu lado,
pois seria uma competição com o espelho", e vieram mais e mais
pensamentos. ... Mas voltando para o rapaz, acredito que a Revolução
Masculina vai se confundir várias vezes no movimento. Ou vai ver não,
ela é assim mesmo, uma mudança para uma maior sensibilidade masculina
talvez passa por uma confusão de identidade sexual. ..."

Minha resposta (com questionamentos) ao e-mail:
Quanto ao tal cara que cuidava do cabelo no carro, só fico pensando nos
limites das diferenças entre nós homens e vocês mulheres. Você diz que
não gostaria de um homem assim, dividindo o espelho com você, e fico
pensando naquela conversa que tivemos sobre "o novo homem". Algumas
mulheres reclamam de homens que consideram muito parecidos com elas. Eu
me pergunto onde está essa linha limítrofe do quanto é MUITO parecido,
parecido DEMAIS. Até onde um homem pode ser vaidoso, pra não invadir o
espaço na penteadeira de vocês; o quanto um homem pode ser sensível sem
abusar tanto dos lenços de papel que enxugam suas lágrimas; o quanto
podemos participar mais próximos da educação de nossos filhos sem
invadir o seu milenar espaço de poder sobre a reprodução da humanidade,
que alguns vêem como um direito adquirido em nove meses carregando um
novo ser em suas entranhas; e o quanto pode um homem ser dependente
financeiramente de uma mulher, tal qual tantas mulheres dependem de
homens, sem que perca o respeito (ganhando rótulos como gigolô) ? Onde
está a linha limítrofe que os homens estão passando? Será mais difícil
transpô-la do que a linha que as mulheres passaram quando deixaram suas
bonecas de lado e vieram brincar com nossos carrinhos e fortes apache? E
como fica agora que os homens começaram a achar interessante brincar de
casinha?
Quando o tal cara se preocupa muito com a aparência de suas madeixas
uma luz de alerta deve acender e pensamos "Epa! Onde você pensa que vai,
ultrapassando tanto assim os limites estabelecidos para você? Chegue
devagar e peça licença como quem pede desculpas!!!".
Essa foi uma tentativa de provocar você. Não agredir, mas provocar a
reflexão que eu sempre faço sobre esses limites que nos mantêm no nosso
lugar de homens e mulheres, e o quanto podemos ultrapassa-los sendo
ainda homens e mulheres.
Saudades do homem de antigamente? Às vezes penso que é você e uma
torcida maior que a do flamengo. Onde eu consigo meu dinheiro de volta
com quem me vendeu essa história de homem sensível, vaidoso e
compreensivo?


Candrel de Moraes

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