A Conta do Motel
Um amigo namorou durante alguns meses com uma moça que havia sido noiva
durante alguns anos de um outro rapaz. Ela elogiava a peformance de
alcova do meu amigo, comparando com a do ex-noivo, que segundo ela era
muito sem criatividade. Desabrochou sexualmente, tendo oportunidade de
descobrir muito sobre si mesma por meio do sexo. Foram meses de elogio.
Até o dia em que o relacionamento acabou. Ela quis reatar, ele não. Logo
baixou o espírito de vítima na moça, que o acusou de aproveitador e de
fazer dela uma puta.
Durante séculos o sexo foi algo para apenas os homens aproveitarem
abertamente. As mulheres, se tivessem a sorte de encontrar alguém que
fosse um bom parceiro na dança do acasalamento, não poderiam parecer do
tipo que gostasse tanto da coisa. Como os homens aproveitavam o sexo e
as mulheres não, a conclusão era de que os homens se aproveitavam das
mulheres.
Hoje, com a liberação feminina, a maioria das mulheres (em países que
realmente chegaram ao século 21), pode dizer abertamente que sexo é algo
gostoso também para elas. De fato, as conclusões dos estudos da
sexualidade humana fazem o sexo parecer algo até mais interessante para
o ser humano do sexo feminino. Muitíssimo mais interessante: maior
sensibilidade em diferentes pontos do corpo, clímax mais intenso sem
necessidade de pausas para se recompor, isso sem falar nos festejados
orgasmos múltiplos, entre outras delícias. O prazer masculino chegou até
a ser descrito como acanhado em comparação ao sexo das mulheres.
Será que não era melhor quando não sabíamos o que estávamos perdendo?
Como nós homens não sabemos de verdade o que estamos perdendo, já que
ninguém virou mulher para experimentar e voltou a ser homem depois para
contar, não há do que se lamentar, pois sexo para nós também é muito
bom, obrigado.
Por que então, por mais bem "comida" que seja uma mulher, é o homem
que está se aproveitando dela? Esse conceito do uso de um gênero pelo
outro está tatuado em mentes de homens e mulheres. Exemplo disso é que
os homens com mais educação tem pudor em descrever uma noite (ou dia, ou
tarde) de amor com uma mulher, pois não é algo que um cavalheiro faz,
enquanto que uma mulher comenta sem nenhuma culpa, nem que seja com suas
amigas mais íntimas, os detalhes de seus prazeres sexuais com um
namorando, ou com um amante eventual.
A relação social entre os diferentes gêneros tem se aproximado da
igualdade. Se novas gerações de homens dividem cada vez mais
igualitariamente a responsabilidade dos afazeres do lar e os cuidados
com os filhos, novas gerações de mulheres cada vez mais tem sua própria
vida profissional e não se incomodam em dividir as despesas ou mesmo em
pagar a conta do restaurante ou do cinema de seus parceiros.
Mas a conta do motel parece que continua sendo tabu! Já li em revista
feminina declarações de mulheres que aceitam pagar tudo menos isso, e
que adoram a ideia de um homem estar pagando para fazer sexo com elas.
Já caiu o mito de que o sexo é melhor para os homens.
O fato de chegar ao orgasmo ser geralmente mais fácil para nós homens
também não diz muita coisa: só significa que gozamos tanto com sexo bom
quanto com sexo ruim. Será que para sermos sempre nós a pagar o motel
vale a desculpa de que o nosso orgasmo é certo e o delas não? Humm...
mas e se o sujeito já mostrou uma excelente performance em uma primeira
oportunidade, não vale a pena a mulher pagar para ver em uma segunda?
E mesmo na primeira ida ao motel, o homem pode pagar por sexo
insatisfatório, mas a mulher não?
Será que a conta do motel é um indício de que as coisas não mudaram
tanto assim? Will boys be boys, and girls be girls? (garotos serão
sempre garotos e garotas serão sempre garotas?)
Sempre existirão aquelas que por mais prazer que tenham tido em uma
relação, se achem as abusadas, as putas, se a condição para o
relacionamento sexual era um relacionamento afetivo, com o término do
relacionamento.
Só aconselho ao colega homem que atente para aquela mulher que ele já
achava incrível: se ela se oferecer sinceramente para pagar a conta do
motel, deve ser mais incrível do que você pensava.
Ah, e faça a noite (ou o dia, ou a tarde) valer!
Candrel de Moraes
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