19/07/2009

La Hija del Sueño

O Tempo do Homem


A partícula cósmica que navega meu sangue
É um mundo infinito de forças siderais.
Veio a mim depois de um longo caminho de milênios
Quando, talvez, fui areia para os pés do ar.

Logo fui a madeira, raíz desesperada
Mergulhada no silêncio de um deserto sem água
Depois fui caracol, quem sabe onde.
E os mares me deram a sua primeira palavra.

Depois a forma humana derramou sobre o mundo
A bandeira universal do músculo e da lágrima.
E cresceu a blasfêmia sobre a velha terra.
O açafrão, a árvore, o versículo e a oração.

Então eu vim à América para nascer um homem
E em mim juntei a planície, a selva e a montanha.
Se um avô das planícies galopou até meu berço
Outro me contou histórias em sua flauta de bambu.

Eu não estudo as coisas nem pretendo entendê-las
As reconheço, é certo, pois antes vivi nelas.
Converso com as folhas em meio às montanhas
E me enviam mensagens as raízes secretas.

E assim vou pelo mundo, sem idade nem destino.
Ao amparo de um cosmos que caminha comigo
Amo a luz, o rio, o silêncio e a estrela,
E floresço em guitarra porque fui a madeira.

(Atahualpa Yupanqui)


Adriana Grivot

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